Aguimon Alves, 30/12/2022
Curva
de Laffer é um conceito desenvolvido pelo economista americano Arthur Laffer
(1940…) que significa o seguinte: quando o governo aumenta a alíquota dos
impostos além de um determinado limite, automaticamente diminui a arrecadação. Mas
quando diminui as alíquotas também até um determinado limite ele aumenta a
arrecadação e estimula a prosperidade econômica.
Em
outros termos: a relação entre aumento de impostos e aumento da arrecadação não
é, necessariamente, diretamente proporcional. Um aumento na tributação pode
resultar em uma receita menor do que antes.
A
representação gráfica deste conceito não é uma reta ascendente, mas sim uma
curva voltada para baixo. E esta curva recebeu a denominação “Curva de Laffer”.
Como
funciona a “Curva de Laffer”?
Imaginemos
o que aconteceria considerando a tributação de 0% a 100%:
1. Se
a alíquota de tributação for 0% obviamente que o governo não terá arrecadação.
2. Se
a alíquota de tributação for 100% o governo também não terá arrecadação. Neste
caso o consumidor destinaria tudo que ganha para pagar imposto, portanto, ele
não teria incentivo para trabalhar e produzir valor e nenhuma empresa sobreviveria
na legalidade.
Diante
do exposto, existe um “limite” entre esses dois extremos (0% e 100%) que
maximizaria a receita obtida com os impostos. Esse “limite” é o ponto de
equilíbrio na cobrança de impostos que evita prejuízo tanto para o Estado que
arrecada, quanto para o consumidor que paga o imposto.
Em
outras palavras: a Curva de Laffer, sob a forma de uma parábola, representa o
limite máximo de arrecadação, ou seja, qual a alíquota máxima de imposto a ser
cobrada sobre um produto sem que isto diminua a arrecadação. Resolvida esta
equação teremos o ponto de equilíbrio.
Imaginemos
que vários produtos amplamente consumidos pelas pessoas tenham 15% de
tributação e tal alíquota seja considerada razoável para o consumidor ao mesmo
tempo que não compromete a arrecadação. Mas o governo resolve elevar a alíquota
para 30% almejando cobrir os rombos provocados pela adoção de uma política
econômica desastrosa, pela má gestão dos recursos públicos e também pela
corrupção.
Numa
sociedade historicamente fragilizada por médias salariais baixas a elevação das
alíquotas de impostos automaticamente diminui o consumo, as empresas diminuem a
produção e tendem a optar pela sonegação como medida compensatória para
continuar produzindo. Também aumenta o contrabando e a fabricação de produtos
piratas, pois o imposto alto empurra o consumidor para comprar produtos vendidos
na economia informal.
O resultado
de tudo isto converge para menor arrecadação pelo Estado, embora o governo tenha
aumentado a tributação. Menor arrecadação, significa menos recursos para a
manutenção da máquina pública, atender a assistência social, investir em
infraestrutura e pagar juros de dívidas. Para resolver o problema da escassez
de recursos o governo aumenta mais ainda os impostos, emite mais papel moeda e
aumenta o endividamento com juros mais altos. Se esta espiral não for contida,
ela conduzirá a mais empobrecimento da população até aos limites insuportáveis.
O
cenário torna-se pior quando os aumentos dos impostos incidem sobre
combustíveis e energia. Significa também que todos os produtos terão seus
preços majorados, pois tudo, absolutamente tudo, depende desses itens de
necessidade prioritária.
Quando
as pessoas pagam menos impostos sobre os produtos em geral, significa que
incorporam mais recursos ao seu padrão de vida. Há mais geração de empregos,
prosperidade econômica e o governo arrecada mais.
Mas o
grande problema é: como encontrar o ponto de equilíbrio a fim de que o aumento
dos tributos não atrapalhe o funcionamento da economia? Será que fazendo o “L”
seria possível resolver esta equação? Não me refiro ao “L” de Laffer,
obviamente.
Impostos
elevados também são responsáveis pelo aumento da criminalidade. A produção
clandestina de uma série de produtos só existe porque há consumidores em busca
de preços mais baixos, mesmo que o produto não tenha garantia de qualidade.
Reportagem
de 17/05/2019 do Jornal Gazeta do Povo, informou que as apreensões de
mercadorias contrabandeadas bateram recordes em 2018. Neste ano a Receita
Federal apreendeu R$ 3,1 bilhões em produtos, valor 40% superior a 2017. O
número é o maior da série histórica, iniciada em 2010.
Os
cigarros representam a maioria absoluta dos valores apreendidos pela Receita
Federal, 43% do total. Em segundo lugar estão os brinquedos, representando 8,5%
do conjunto.
Sem
passar pelos rigorosos processos de certificação do Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) os brinquedos comercializados irregularmente
usam plástico reciclado, o que é proibido no Brasil. Esses brinquedos não têm
acabamento para evitar partes pontiagudas e são pintados a base de tinta com
metais pesados, como cádmio e chumbo. Além disso, podem apresentar riscos como
pequenas partes que podem ser engolidas. No caso de massinhas e gelecas (hoje
chamadas de “slime”), podem ser tóxicas ou causar alergias.
A
lista de contrabandos é longa: eletrônicos, relógios, vestuários, ósculos de
sol, medicamentos etc., cujos efeitos são danosos à economia e saúde das
pessoas.
Além
do ingresso no país dos produtos ilegais, há também os fabricados em território
nacional. Basta que os infratores enxerguem demanda suficiente por um produto a
ponto de compensar os riscos de serem pegos e punidos. Parece-me que o crime
compensa.
O
prejuízo na arrecadação por conta do comércio irregular é gigantesco. Quanto
mais se aumenta o imposto além dos limites aceitáveis, mais um incentivo para o
financiamento do crime organizado que entende muito bem de economia, pois a
receita é sempre maior do que a despesa. Já no âmbito do Estado de Direito, quando
órgãos do governo, repletos de economistas e tributaristas com boas formações repetem
erros crassos a mando de políticos inescrupulosos, jamais se conseguirá criar
condições de prosperidade econômica.
Enquanto
permanecer a perversa lógica de receita menor do que a despesa, estará
caminhando para a servidão grande parte da população que dependerá
exclusivamente do Estado e não do seu próprio trabalho. O Estado brasileiro já
se tornou prisioneiro do assistencialismo? Basta uma ou duas gerações para
tornar o processo de difícil reversão.
Conclusão
Quando o Estado caminha para o gigantismo, aumentando ainda mais a despesa pública, a tendência é aumentar os tributos no desespero de subir a arrecadação para custear as políticas econômicas desastrosas e a má administração dos recursos. Mas não é só isso: aumenta o endividamento com a emissão de títulos públicos e também pode emitir papel moeda sem o lastro correspondente.
Qualquer
uma dessas três alternativas é uma péssima ideia. Imagine as três aplicadas ao
mesmo tempo. Permanecendo este cenário, a tendência é a diminuição de
investimentos privados que repercute em menos empregos formais e,
consequentemente, menor arrecadação de impostos e mais pobreza.
Então,
você descobriu a diferença entre as duas curvas citadas no título?
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