Aguimon Alves, 28/10/2022
Como nunca na história deste país tem havido
tanto espanto nos meios escolares e universitários quanto ao fato de existirem
professores que não votam em candidatos de esquerda/progressista. Como se isto
fosse um determinismo ideológico: sou professor, logo sou adepto da esquerda ou
do progressismo. Só o fato da existência deste determinismo ideológico nos
meios escolares, para mim, já seria suficiente para pular deste barco que
navega em direção à obscuridade.
Os “defensores” do diálogo e da democracia respondem
a este tipo de posicionamento com xingamentos de fascista, negacionista ou
qualquer outro pejorativo da moda. E ainda dizem que não querem mais se
relacionar com aquele velho amigo porque descobriu que ele é de direita ou
conservador. Surreal!
A inexistência de polarização só existe em países
governados por ditaduras. Em Cuba, Venezuela, Nicarágua, China etc. é proibido
polarizar, ou seja, é impossível confrontar o governante que se recusa a
respeitar o contraditório e permitir eleições livres. É tão difícil perceber
quem apoia tais ditaduras? Creio que não.
Ainda bem que por aqui os autodenominados
“democráticos” podem inclusive jogar bola com o protótipo da cabeça de um Presidente da República que eles odeiam, xingá-lo de todos os pejorativos possíveis e nada
acontecer. Entretanto, tem sido temerário falar em público sobre fatos que
aconteceram com o representante máximo da esquerda. É tão difícil para um
professor enxergar tal realidade? Até a presente data este é o cenário.
A moda atual trouxe à tona o termo “fascista”. Xingar
alguém de fascista é uma estupenda desonestidade intelectual que banaliza e
deturpa o real significado do termo e presta um desserviço sobretudo aos mais
jovens, tão carentes de vocabulário e conhecimentos históricos que permitiriam a
compreensão do fascismo no âmbito do que realmente foi tal regime, sobretudo na
Alemanha nazista e na então União Soviética de Stalin. Horrores foram
perpetrados nestes países com o aniquilamento de milhões de pessoas, seja por
questões raciais ou por questões de classe e posicionamento político.
De fato, por muito tempo eu e muitos outros (professores
ou não) naturalmente se inclinaram para a esquerda por uma questão óbvia: não
tínhamos parâmetros referenciais. Em outros termos, mesmo quem passasse
inclusive por formação superior só restava seguir a onda. A literatura sonegada
coincidia com os autores de matriz não marxista. Não se promovia (e nem se
promove) debates nas instituições de ensino em geral apresentando-se duas
visões diferentes. Seria medo de os ouvintes colocarem os argumentos na balança
e penderem para a direita? Creio que sim. Explico a seguir.
A grande discussão do momento não se trata de
enquadramentos direita/esquerda, talvez uma classificação não tão adequada
atualmente, mas é o que temos no momento para efeitos didáticos.
Em qualquer lugar onde há liberdade de opinião
naturalmente pode ocorrer uma divisão mais ou menos simétrica nas preferências.
Não há direito de escolha se não existem parâmetros referenciais produzidos
pelo debate. Simetria, definitivamente, não agrada às pessoas que só enxergam
os defeitos dos outros. A única forma de eliminar a possibilidade da simetria é
omitir ou impedir que vozes dissonantes tenham acesso ao território já ocupado
pela esquerda há décadas. Ironicamente quem hoje ocupa os aparelhos detentores
da plateia cativa (escolas, universidades etc.) não permite o contraditório e
ainda acusam os outros de serem fascistas, além de ridicularizá-los com todos
os tipos de pejorativos. E ironicamente se dizem democráticos. Surreal!
É impossível alguém mudar de posicionamento se
desde o início da vida escolar só ouviu a mesma versão dos fatos, ou seja,
virtudes para um lado e demonização para o outro. Parece-me que há uma recusa,
ainda que inconsciente, de se analisar os fatos conforme os cenários
geopolíticos e socioeconômicos da respectiva época dos fatos. Esta galvanização
das mentes é tão eficiente que os galvanizados se recusam a ler outras visões
de mundo. Quem não lê outras visões de mundo não consegue contrapor-se a alguém com
ideias diferentes com argumentos retirados da própria
literatura apreciada pela pessoa com quem discordamos.
Na verdade, grosso modo, mentalidades de viés
progressista/esquerdista não têm sequer leitura direto na fonte primária de
doutrinas de matriz marxista, o que dizer, então, da leitura dos livros de
natureza liberal? Só para ficar com um exemplo, a obra “Ação Humana” de Ludwig
von Mises (1881-1973) tem mil páginas. É
mais fácil recorrer aos xingamentos como estratégia para demonizar o
adversário. Trata-se do famoso argumento ad hominem, quando o
interlocutor responde um argumento com críticas negativas ao seu autor e não ao
conteúdo apresentado. Quem não rebate o conteúdo não tem conhecimento para
rebatê-lo.
Inúmeras literaturas de matriz marxista, na sua
fonte primária, são enfadonhas e não raro de difícil compreensão. Sendo assim,
elas são interpretadas pelos especialistas e repassadas em forma de artigos ou
livros para os estudantes desprovidos do contraditório.
Não adianta querer argumentar com a
apresentação de renomados escritores porque os contra-argumentos serão os
seguintes: se o escritor for negro, será chamado de traidor ou de capitão do
mato; se o escritor for homossexual, também será chamado de traidor; se o
escritor for branco, imediatamente será classificado como fascista/nazista por
razões óbvias; se for uma escritora antifeminista será chamada de uma
doutrinada pelo machismo e assim por diante. O debate é simplesmente suprimido
pelos pejorativos e vira uma espiral de xingamentos.
Até as pessoas mais simples quando se
posicionam contrário à esquerda, também recebem um pejorativo: trata-se de um
oprimido que sonha ser um opressor, em outros termos, hospeda um opressor
dentro de si. Não há escapatória.
Existiria um método dentro dos meios escolares
e universitários que repercutem apenas a hegemonia cultural de matriz marxista?
Seria uma forma de impedir o conhecimento sobre a matriz política oposta? Por que
ainda tantos doutores acreditam que o estado controlador é a solução? É tão
difícil entender que são as pessoas que produzem riquezas? O estado deveria ser
um juiz imparcial. Uma espécie de guia para equilibrar o jogo e não para
aumentar demasiadamente o poder a favor de um pequeno grupo de iluminados que
acham ter o direito de intervir na vida privada dos outros.
São perguntas retóricas, obviamente. Até os que
se dizem apáticos, que se autoproclamam indiferentes, significa que já foram cooptados
por um modelo de pensamento que enxerga o diferente como inimigo. Não há como
ser indiferente quando existem polos nitidamente opostos. Ou se apoia quem já
foi condenado em mais de uma instância da justiça ou se apoia quem verbaliza
palavrões e é truculento com as palavras. Parece-me tão óbvio que não dá para
fazer falsas equivalências. Grosso modo, este é o cenário atual.
O indiferente sempre pende para o lado esquerdo.
O indiferente é notoriamente um sujeito mais preocupado com estética e palavras
do que com ações concretas já praticadas que levaram o país à decadência
econômica e moral enquanto o mundo prosperava. Infelizmente os sofistas sabem
exatamente o que dizer para encantar inclusive quem já passou pela juventude.
De fato, a “palavra” é uma poderosa arma que
serve para fazer o mal ou o bem. Serve para enganar, mas também serve para
alertar. Uma palavra inadequada pode representar um grande desgaste ou nada
significar. Tudo dependerá do mensageiro. Por exemplo: “Covid-19 é presente de Deus
para a esquerda” (palavras dita pela celebridade Jane Fonda, jornal Gazeta do
Povo, 08/10/2020). Aqui no Brasil também se disse: “Ainda bem que a natureza
criou esse monstro chamado coronavírus”. Queres saber quem disse isto? Procura
no Google/YouTube. Sobre essas duas falas, as grandes mídias não fizeram a
devida exploração negativa; deram apenas a notícia. Muitos professores ficaram
calados por razões óbvias. E se essas mesmas palavras saíssem da boca de outra
pessoa de viés oposto às referidas personalidades?
Quem tem o domínio dos microfones nos meios
culturais (mídias, instituições de ensino, teatro etc.), também domina seus
influenciados a não prestarem atenção nas contradições ou nos chamados atos
falhos ou gafes. São especialistas em minimizar o problema e torcer pelo quanto
pior, melhor. Domina, inclusive, o significado das palavras como já acontece
com o termo “fascista”. De tanto banalizá-lo, qualquer um pode ser fascista,
basta discordar das teorias da esquerda. É desta forma de funciona a suja e assimétrica
guerra cultural.
Curiosamente, todo este cenário acima relatado não
é perceptível pela maioria dos professores. Supostamente trata-se de uma classe
esclarecida pelo simples fato de ter como ferramenta de instrução livros
diversificados e a observação da realidade contemporânea, bem como o
conhecimento de fatos não tão distantes dos tempos atuais.
Diante do exposto e considerando as dinâmicas
sociais, econômicas e políticas, as importantes decisões deveriam ser tomadas sob
a égide de referenciais, não para escolher o governante ideal, pois na política
nunca existe o ideal. Na política, essencialmente a escolha deveria recair
sobre o cenário cuja proposta seja o suficiente para impedir que o pior chegue
ao poder e perpetue uma cultura monolítica e cerceadora da liberdade de
pensamento inclusive das instituições de ensino. Cercear a liberdade de opinião dentro de uma
instituição de ensino é o pior dos mundos. Pois é da sala de aula que saem os tomadores
de grandes decisões na esfera política e econômica.
Quando alguém se nega a observar os
referenciais puramente por questões ideológicas, decide no escuro. Palavrões e
frases de efeito incrivelmente se tornaram mais importantes em relação a tudo
que foi visto nos noticiários policiais ao longo de vários anos. Inúmeros réus
confessos que devolveram bilhões nunca existiram nas memórias dos mais jovens.
E parece que também não existiram para inúmeros professores, já que os sofistas
da sala de aula neutralizaram o contraditório e omitiram para os alunos fatos
recentes. Tudo estaria virando uma miragem?
É proibido professor ser conservador, liberal
ou de direita. Parece-me que é proibido mudar de ideia se os cenários mudarem. E
é justamente este o significado do “conservadorismo”: tomar por base o passado
e adequar as decisões do presente para evitar que no futuro os próprios
conservadores sejam chamados de fascistas e amordaçados. Por definição, ser
conservador significa conservar os valores que contribuíram para o processo
civilizatório e substituir aqueles ultrapassados pela própria dinâmica do
tempo. Ao contrário disso, os revolucionários criticam tudo e a todos e
prometem um mundo que nem eles próprios sabem do que realmente se trata.
Fantasiam um mundo melhor que nunca existirá porque seus princípios norteadores
são incompatíveis com o mundo real e a natureza humana.
Quanta ironia: quem se diz democrático e,
portanto, defensor da liberdade de expressão, são os mesmos que pregam em sala
de aula a demonização de quem não comunga das utopias
progressistas/esquerdistas. Que se emocionam com as aulas sobre Revolução
Francesa que produziu a guilhotina no pescoço inclusive dos próprios
companheiros. Que admiram o revolucionário Che Guevara que discursou na ONU em
1964 e confessou: “sim, fuzilamos e continuaremos fuzilando se for necessário”.
Procure no Google ou YouTube.
O que esperar de um sistema educacional que
toma por base pedagógica um livro que apresenta uma pregação de luta de classes
no melhor estilo marxista? Não me refiro à velha dicotomia burguês X
proletário, mas sim às divisões de classes propaladas pela dicotomia
opressor/oprimido agora ardilosamente provocada entre brancos e negros, homens
e mulheres, heterossexuais e homossexuais e assim por diante.
Será que é tão difícil enxergar o que os
governos de matriz marxista (agora disfarçados de outros nomes) fizeram no
Leste Europeu? Ainda não perceberam que o Muro de Berlim caiu em 1989? Alguém
tem dúvida de que a maior parte da América Latina mergulhou num pântano
ofuscada pela promessa do paraíso da igualdade a ser ofertado pelo estado?
Parece-me que esta tão carente América Latina tornou-se o abrigo dos órfãos
admiradores das ditaduras socialistas. E mais, será que é tão difícil entender
que a invasão da Ucrânia pela Rússia ainda é fruto de uma matriz ideológica que
persegue qualquer um que se oponha? Sim, estou falando da velha União
Soviética, tão admirada pelos revolucionários nostálgicos aqui do Brasil.
O passado recente, neste momento, está sendo
omitido. E logo será apagado. Talvez daqui a dez anos (ou menos), termos como
“mensalão”, “petrolão”, dentre outros típicos do recente estado cleptocrata,
estarão esquecidos, ou melhor, inexistentes na literatura dos livros didáticos.
Neste momento muitos professores e intelectuais orgânicos, ainda que de forma
inconsciente, estão trabalhando na reinterpretação dos fatos, como se fatos pudessem ser modificados; depois negarão a existência dos fatos que foram reinterpretados;
por fim, sequer tocarão no assunto. Persegue-se tenazmente o pensamento único.
Esse é o legado que muitas instituições de ensino estão nos proporcionando no
melhor estilo de George Orwell na célebre obra 1984.
Ironicamente tornou-se mais fácil conversar com
quem quase não frequentou nem mesmo o antigo ensino primário do que conversar
com acadêmicos. Aqueles têm muitas dúvidas porque vivem no mundo real,
constantemente em busca da sobrevivência; já os acadêmicos não têm dúvidas, são
iluminados e detentores das verdades. Acreditam num mundo de fantasia embora
uma grande parte seja bancada pelos impostos de quem não tem letramento e
vive no mundo real.
Os meus referenciais atualmente são os
fugitivos da Venezuela e de Cuba e o fechamento de mídias e expulsão de padres
e freiras da Nicarágua. Infelizmente demorei para perceber a existência de fugitivos
que tentaram pular o Muro de Berlim e foram fuzilados ao longo das décadas de
1960 e 1970. Não percebi porque o sistema é ofuscante tanto para os jovens
sonhadores, quanto para os doutores nostálgicos de um tempo que eles próprios
não vivenciaram. Doutores que acham explicação para tudo sob o viés do velho marxismo.
Diante do exposto, o voto deveria ser norteado sempre para o candidato com maior potencial para impedir que o pior tome
o poder e nele se perpetue. O
governante deve ser sempre passageiro.
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