O TEMPO DE DURAÇÃO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O HOLOCAUSTO NÃO SERIAM CONSEQUÊNCIAS DA DEPRECIAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS FRANCESAS E BRITÂNICAS?

 

   Aguimon Alves – Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2021

 Introdução

Aconteceu na Europa no período entre as duas guerras mundiais (1918-1939) fatos trazidos pelo escritor e economista norte-americano Thomas Sowell (1930…) em sua obra “Os Intelectuais e a Sociedade”. Com indicações das fontes jornalísticas e livros que retratam o período entreguerras, Sowell apresenta argumentos que muitos se recusam a compreender. Foram apenas 21 anos de propaganda contra o militarismo. O resultado foi o surgimento de Hitler.

       As aspas indicam referências ipsis litteris. Na sequência faço algumas considerações sobre os formadores de opinião.

 Diz Sowell na referida obra

Era motivo de prestígio durante as décadas de 1920 e 1930 se declarar pacifista. Frases de natureza pacifista facilitavam a admissão da pessoa para o convívio entre as elites. “Durante uma reunião do partido trabalhista britânico, o economista Roy Harrod ouviu de uma candidata ao parlamento britânico proclamar que a Grã-Bretanha deveria se desarmar ‘como exemplo para os outros’, um argumento bastante comum na época”. Rebatendo esta afirmação Harrod perguntou: “Você acha que nosso exemplo fará com que Hitler e Mussolini se desarmem”? (pág. 339).

Dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, em 1937, “quando Churchill defendia a duplicação do tamanho da força aérea britânica, o líder do partido liberal declarou que isso representava um frenesi assassino. Um ano depois, quando Churchill subiu novamente ao Parlamento para criticar o governo por não se rearmar, ele foi recebido da seguinte maneira: ‘Um silêncio constrangedor saudou Churchill assim que ele terminou. Então, os parlamentares, querendo se dedicar a assuntos mais agradáveis, recolheram seus papéis, levantaram-se e dirigiram-se ao saguão, apressando-se para o chá’”. (pág. 341).

As escolas francesas tiveram importante papel na disseminação do movimento pacifista após a Primeira Guerra Mundial. O sindicato de professores franceses durante a “década de 1920 deu início a uma série de campanhas organizadas que se opunham aos livros escolares do pós-guerra que retratassem favoravelmente os soldados franceses, os quais haviam defendido seu país contra os invasores alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Tais textos foram cunhados como ‘belicosos’, uma tática verbal ainda comum entre os integrantes da visão do intelectual ungido, tratando as visões divergentes como se fossem meras emoções”. (pág. 345).

“Os líderes com inclinação para reescrever os livros escolares de história chamaram seu objetivo de ‘desarmamento moral’, o que abriria o caminho para o desarmamento militar, o qual muitos consideravam outro ponto central para a conquista da paz. As listas dos livros censurados foram organizadas por Georges Lapierre, um dos líderes do SN” (Sindicato Nacional dos Professores Franceses). “Por volta de 1929 ele se gabava de ter removido todos os livros ‘belicosos’, os quais a campanha encabeçada pelo SN tinha retirado das escolas. Esses livros haviam sido reescritos ou substituídos”. (pág. 345).

Para não perderem boa parte do mercado editorial, as editoras francesas submeteram-se às exigências dos sindicatos. Revisaram os livros sobre a Primeira Guerra Mundial para refletirem a ‘imparcialidade’ entre as nações e promover o pacifismo. (pág. 345).

A liderança sindical dos professores franceses “lançou uma campanha contra esses livros escolares de ‘inspiração belicosa’, os quais foram caracterizados como ‘um perigo para a implantação da paz’. Já que era dito que o nacionalismo era uma das causas da guerra, o internacionalismo ou a ‘imparcialidade’ entre as nações foi considerado uma característica necessária a ser adotada nos livros escolares”. (págs. 345 e 346).

“Homens que haviam sido honrados como heróis da pátria por terem sacrificado a própria vida numa luta desesperada para deter os invasores do seu país eram agora verbalmente reduzidos a vítimas, colocados no mesmo patamar de outras vítimas, incluindo invasores”. (pág. 347).

“A França havia repelido os invasores alemães por quatro longos anos durante a Primeira Guerra Mundial. (…) durante a Segunda Guerra a França se rendeu depois de apenas seis semanas de combate, em 1940. (…). Charles de Gaulle, François Mauriac e muitos outros franceses atribuíram o desastre à falta de empenho nacional e a uma decadência moral geral, as quais podiam explicar o repentino e humilhante colapso da França em 1940”. (págs. 347 e 348).

Os motivos que levaram Hitler a invadir a França, mesmo contrariando seus generais, basearam-se nas análises do comportamento dos franceses. “Hitler dissera que a França não era mais a mesma que lutara encarniçadamente nos quatro anos da Primeira Guerra Mundial, afirmando que a França atual perdera a sua força combativa necessária para assegurar a vitória e que ela vacilaria e se renderia”. (…). Hitler já fizera, muito antes, um estudo sobre a opinião pública, assim como sobre a opinião oficial, na França e na Grã-Bretanha. As palavras e os feitos dos políticos e dos pacifistas nesses países entraram nos cálculos do Hitler. (págs. 348 e 349).

“Em 1933, alunos da Universidade de Oxford comprometeram-se, em público, a não lutar pela defesa de seu país, um fato que ficou conhecido como o ‘juramento de Oxford’, espalhando-se rapidamente por outras universidades britânicas e tendo apoio dos intelectuais”. (…). Na França exorta-se “a realização de uma intensa campanha a fim de induzir o maior número possível de jovens a renunciar ao combate em qualquer guerra entre nações”. (pág. 351).

“Na Grã-Bretanha, assim como na França, o patriotismo foi considerado suspeito e causador da guerra. H. G. Wells, por exemplo, declarava ser contrário ao ‘ensinamento de histórias patrióticas que sustentam e carregam a venenosa tradição guerreira do passado’ e queria que a cidadania britânica fosse substituída pela ‘cidadania mundial’”. (pág. 352).

“Hitler observava esses acontecimentos na Grã-Bretanha e na França, tecendo seus próprios planos e avaliando as crescentes perspectivas de vitória militar”. (pág. 352).

“Líder do partido socialista francês, Léon Blum, diz: “Se uma nação decidiu se desarmar, isso não acarretaria, na realidade, nenhum risco, pois o prestígio moral de sua decisão a tornaria invulnerável a qualquer ataque e a força de seu exemplo induziria todos os outros Estados a fazerem o mesmo”. (págs. 352 e 353).

Durante a invasão da França pelos nazistas, o líder sindical Georges Lapierre, pertencente ao Sindicato Nacional dos Professores Franceses, tornou-se membro da resistência, mas foi capturado e enviado ao campo de concentração de Dachau, onde morreu. (pág. 355).

Em junho de 1933, o líder do partido trabalhista inglês, George Lansbury disse: “Eu fecharia todos os postos de recrutamento, desmobilizaria o exército e desmantelaria a aeronáutica. Aboliria todo o terrível equipamento de guerra e diria ao mundo ‘façam o pior’”. Em 21/12/1933, seu sucessor, Clement Attlee, disse à Câmara dos Comuns: “Somos decididamente contrários a qualquer movimento em direção a uma política armamentista”. O partido trabalhista consistentemente votava, discursava e fazia campanha contra o rearmamento até o desencadear da guerra. (págs. 355 e 356).

Em 1931 Attlee disse: “Nossa política não é buscar segurança por meio do rearmamento, mas pelo desarmamento”. (pág. 356).

“Mesmo antes de Hitler chegar ao poder, os agentes da inteligência francesa já haviam penetrado na clandestina reconstrução militar do poderio alemão. Mas tanto a imprensa quanto os políticos não queriam relatar ao público francês coisas que ele não queria ouvir, afinal de contas os traumas que haviam passado durante a Primeira Guerra Mundial ainda estavam latentes”. Mesmo após o partido nazista ter se tornado a maioria no parlamento alemão nas eleições de 1932 e Hitler ter chegado ao poder em janeiro de 1933, a negação sobre os perigos para a França continuou. A imprensa francesa se recusa a reconhecer o perigo da situação. (pág. 361).

“No final da década de 1930, à medida que refugiados fugiam da Alemanha para a França, trazendo consigo as histórias sobre os horrores do regime nazista, essas histórias não eram apenas amplamente rejeitadas, mas porque muitos desses refugiados eram judeus, isso provocou uma onda de antissemitismo segundo a qual os judeus estariam tentando provocar uma guerra entre a França e a Alemanha. O antissemitismo não estava confinado às massas, mas também se fazia comum entre os intelectuais franceses”. (pág. 363).

 O domínio dos formadores de opinião e considerações finais

         O objetivo da contextualização acima é apresentar o quanto formadores de opinião podem destruir os valores de uma nação, transformando-a em ruínas sem que haja qualquer reação concreta ao longo do processo. O tempo de duração da Segunda Guerra, os horrores do holocausto e os efeitos colaterais do pós-guerra estão intimamente relacionados à depreciação que as classes formadoras de opinião fizeram do militarismo, sobretudo na França e Grã-Bretanha, permitindo que Hitler avançasse. O holocausto teria existido se franceses e britânicos estivessem bem armados? A França se rendeu em apenas seis semanas e o rearmamento dos britânicos teve que acontecer já com a guerra deflagrada. A recomposição das forças armadas tardiamente resultou em um longo e intenso bombardeio a Londres. Milhares de civis, não só na Inglaterra como também na Europa continental, perderam as vidas porque foram iludidos para darem o exemplo moral do desarmamento.

         Os fatos históricos acima citados deveriam nortear aprendizados para outros campos de batalhas. Naquela época professores, intelectuais orgânicos, jornalistas e políticos empreenderam uma cruzada pelo desarmamento da França e da Grã-Bretanha que só serviu para permitir a ascensão do totalitarismo. Agora estamos vivenciando uma outra cruzada perpetrada pelas mesmas classes e com as mesmas técnicas de outrora influenciando os jovens a adotarem posturas que os levarão a abraçar uma ideologia que vai desembocar no totalitarismo.

         Mas o que fazer diante de um bombardeio cultural cuja única intenção é conduzir, principalmente os jovens, para um mundo de ficção cujos resultados serão desastrosos? Não foi isto o que aconteceu naquele período entreguerras? E se a França e Grã-Bretanha estivessem bem armadas após a Primeira Guerra Mundial, teria Hitler ousado colocar o seu plano em prática? O totalitarismo só é possível quando um só lado está armado. Assimetria de forças é, definitivamente, o primeiro passo para o surgimento de regimes totalitários. E o pior totalitarismo não é mais aquele imposto pelas armas, mas por meio da cultura sem nenhum espaço para o contraditório.

         Aqui no Brasil estamos vivendo uma guerra assimétrica no campo cultural. Uma guerra onde só um lado sempre esteve armado. São muitos os soldados trabalhando para cooptar outros soldados. Estou falando dos “soldados das palavras” que adquirem grande poder de persuasão quando estão falando para públicos cativos e desinformados. Políticos, jornalistas, intelectuais orgânicos e professores em geral com apenas meia hora de palestra podem levar suas palavras para milhões de pessoas que já estão predispostas a acreditarem no chamado argumento de autoridade, uma vez que tais pessoas já foram reduzidas ao status de simples ouvintes passivos, seja diante de uma televisão, rádio, cinema, auditório ou dentro de uma sala de aula. Todos ouvem, mas não retrucam. Grande parte sequer possui informação suficiente para desconfiarem de que estão sendo bombardeados com desinformações. E ainda são levados a acreditarem que têm pensamento crítico.

         Quem não souber guerrear com as armas da guerra cultural está fadado ao fracasso. Tudo começou com a cooptação das classes formadoras de opinião, sobretudo com a formação de intelectuais orgânicos que se dedicam a escrever livros, artigos e reportagens jornalísticas que distorcem as realidades. O poder dessas classes de transformar ficções em “realidades” não pode ser desprezado. É uma questão de tempo para o caos.

Depreciar costumes e instituições seculares se tornou pauta das mídias e conteúdo de sala de aula do nível fundamental ao doutorado. Muitos intelectuais e professores identificam condutas negativas e/ou criminosas de indivíduos e os associam de forma sorrateira a instituições ou classes. Por exemplo, quando se defende direitos para os homossexuais, de forma subliminar se deprecia a instituição “família” quando se atribui o complemento com o termo “tradicional”. A partir daí cria-se o antagonismo: família tradicional X família moderna. Sem a criação de um inimigo não há uma causa.

A mensagem que se pretende fixar é a existência de uma tal “família tradicional” que oprime outros modelos familiares. Nesta toada, criou-se o termo “heteronormatividade” para depreciar qualquer pessoa que se atreva a opinar de forma contrária ao politicamente correto. A defesa de direitos para um grupo não deveria ser atrelada à depreciação de outro, obviamente. Inventa-se um grupo inimigo e o classifica como antagônico. O objetivo é a fragmentação da sociedade o máximo possível.

Em outro exemplo, quando se defende direitos para os negros, tal defesa vem carregada de uma mensagem subliminar de que os brancos são responsáveis pelo passado de escravidão e que eles têm o dever moral de fazerem uma tal reparação histórica. O mal praticado por pessoas num passado distante agora deve ser reparado pelos supostos descendentes daqueles malfeitores. É o retorno ao antigo direito penal onde o descendente pagava pelo crime cometido pelos seus pais e avós. O canto da sereia é tão eficiente que já existem brancos se sentindo culpados pelo simples fato de serem brancos. A quem interessa criar hostilidades entre brancos e negros? Se nada acontecer de diferente, receio que já tenhamos iniciado a era da fabricação de ressentimentos. Eis aí mais um ativo político que engorda as pautas progressistas.

Também nesta toada, o cristianismo tornou-se alvo de ataques como se fosse a religião antagônica às religiões de matriz africana.

Tradições, instituições e grupos étnicos são “criminalizados” por conta das condutas negativas e/ou criminosas de um pequeno número de indivíduos, como se fosse possível levar a penalidade além do indivíduo que cometeu o ato ilícito. Inclusive atos pretéritos são resgatados e atribuídos de forma subliminar a instituições, religiões ou grupos identificados como forças opressoras, como se coisas abstratas tivessem responsabilidades por condutas ilícitas. E tudo endossado pela grande imprensa, intelectuais, artistas, políticos etc. Em outros termos, criminaliza-se o abstrato e não o indivíduo. Obviamente que todo crime é cometido por indivíduos e não por instituições, grupos ou entidades abstratas. 

Para cada situação que for possível identificar um grupo ou uma instituição como opressora, também será depreciado quem ousar discordar. Liberdade de opinião só vale se agradar à ditadura do politicamente correto.

A maioria esmagadora dos intelectuais está dentro das universidades públicas e, ironicamente, esses intelectuais são financiados pelo estado para fazerem propaganda de um novo tipo de totalitarismo: o totalitarismo do pensamento único à luz do marxismo. Talvez muitos não enxerguem o que estão fazendo de tão embriagados pelos títulos de doutores que possuem e por isso são adulados e convidados rotineiramente pelas grandes mídias para tecerem suas “sábias” considerações sobre os problemas do Brasil e do mundo. Fazem propaganda contra o país e se acham os salvadores da pátria contra uma ditadura imaginária.

Infelizmente a maioria dos doutores da área de ciências humanas/sociais não se predispõem à autocrítica ou a revisarem suas ideias. Afinal, são autoridades sobre as teorias que defendem. Quando as teorias sucumbem diante dos fatos, rapidamente inventam outras para se apropriarem daquilo que deu certo. É por isso que já se fala em “socialismo de mercado”. Até o sucesso da economia de mercado, que está associada ao capitalismo, já vem sendo apropriado por progressistas para justificar o crescimento econômico da China e a formação de uma imensa classe média naquele país.

Por décadas os intelectuais desonestos repudiaram a economia de mercado. Mas quando o partido comunista chinês resolve aderir às regras do capitalismo e tem sucesso, então é agora que o socialismo finalmente apareceu com seu verdadeiro nome: socialismo de mercado. Mas ainda está numa fase primária. Inacreditável a cegueira de tantos letrados!  

 


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