Aconteceu na Europa no período entre as duas
guerras mundiais (1918-1939) fatos trazidos pelo escritor e economista
norte-americano Thomas Sowell (1930…) em sua obra “Os Intelectuais e a
Sociedade”. Com indicações das fontes jornalísticas e livros que retratam o
período entreguerras, Sowell apresenta argumentos que muitos se recusam a compreender.
Foram apenas 21 anos de propaganda contra o militarismo. O resultado foi o surgimento
de Hitler.
As aspas indicam referências ipsis litteris.
Na sequência faço algumas considerações sobre os formadores de opinião.
Era motivo de prestígio durante as décadas de
1920 e 1930 se declarar pacifista. Frases de natureza pacifista facilitavam a
admissão da pessoa para o convívio entre as elites. “Durante uma reunião do
partido trabalhista britânico, o economista Roy Harrod ouviu de uma candidata
ao parlamento britânico proclamar que a Grã-Bretanha deveria se desarmar ‘como
exemplo para os outros’, um argumento bastante comum na época”. Rebatendo esta
afirmação Harrod perguntou: “Você acha que nosso exemplo fará com que Hitler e
Mussolini se desarmem”? (pág. 339).
Dois anos antes do início da Segunda Guerra
Mundial, em 1937, “quando Churchill defendia a duplicação do tamanho da força
aérea britânica, o líder do partido liberal declarou que isso representava um frenesi
assassino. Um ano depois, quando Churchill subiu novamente ao Parlamento
para criticar o governo por não se rearmar, ele foi recebido da seguinte
maneira: ‘Um silêncio constrangedor saudou Churchill assim que ele terminou.
Então, os parlamentares, querendo se dedicar a assuntos mais agradáveis,
recolheram seus papéis, levantaram-se e dirigiram-se ao saguão, apressando-se
para o chá’”. (pág. 341).
As escolas francesas tiveram importante papel
na disseminação do movimento pacifista após a Primeira Guerra Mundial. O
sindicato de professores franceses durante a “década de 1920 deu início a uma
série de campanhas organizadas que se opunham aos livros escolares do
pós-guerra que retratassem favoravelmente os soldados franceses, os quais
haviam defendido seu país contra os invasores alemães durante a Primeira Guerra
Mundial. Tais textos foram cunhados como ‘belicosos’, uma tática verbal ainda
comum entre os integrantes da visão do intelectual ungido, tratando as visões
divergentes como se fossem meras emoções”. (pág. 345).
“Os líderes com inclinação para reescrever os
livros escolares de história chamaram seu objetivo de ‘desarmamento moral’, o
que abriria o caminho para o desarmamento militar, o qual muitos consideravam
outro ponto central para a conquista da paz. As listas dos livros censurados
foram organizadas por Georges Lapierre, um dos líderes do SN” (Sindicato
Nacional dos Professores Franceses). “Por volta de 1929 ele se gabava de ter
removido todos os livros ‘belicosos’, os quais a campanha encabeçada pelo SN
tinha retirado das escolas. Esses livros haviam sido reescritos ou substituídos”.
(pág. 345).
Para não perderem boa parte do mercado
editorial, as editoras francesas submeteram-se às exigências dos sindicatos.
Revisaram os livros sobre a Primeira Guerra Mundial para refletirem a
‘imparcialidade’ entre as nações e promover o pacifismo. (pág. 345).
A liderança sindical dos professores franceses
“lançou uma campanha contra esses livros escolares de ‘inspiração belicosa’, os
quais foram caracterizados como ‘um perigo para a implantação da paz’. Já que
era dito que o nacionalismo era uma das causas da guerra, o internacionalismo
ou a ‘imparcialidade’ entre as nações foi considerado uma característica
necessária a ser adotada nos livros escolares”. (págs. 345 e 346).
“Homens que haviam sido honrados como heróis da
pátria por terem sacrificado a própria vida numa luta desesperada para deter os
invasores do seu país eram agora verbalmente reduzidos a vítimas, colocados no
mesmo patamar de outras vítimas, incluindo invasores”. (pág. 347).
“A França havia repelido os invasores alemães
por quatro longos anos durante a Primeira Guerra Mundial. (…) durante a Segunda
Guerra a França se rendeu depois de apenas seis semanas de combate, em 1940.
(…). Charles de Gaulle, François Mauriac e muitos outros franceses atribuíram o
desastre à falta de empenho nacional e a uma decadência moral geral, as quais
podiam explicar o repentino e humilhante colapso da França em 1940”. (págs. 347
e 348).
Os motivos que levaram Hitler a invadir a
França, mesmo contrariando seus generais, basearam-se nas análises do
comportamento dos franceses. “Hitler dissera que a França não era mais a mesma
que lutara encarniçadamente nos quatro anos da Primeira Guerra Mundial,
afirmando que a França atual perdera a sua força combativa necessária para
assegurar a vitória e que ela vacilaria e se renderia”. (…). Hitler já fizera,
muito antes, um estudo sobre a opinião pública, assim como sobre a opinião
oficial, na França e na Grã-Bretanha. As palavras e os feitos dos políticos e
dos pacifistas nesses países entraram nos cálculos do Hitler. (págs. 348 e
349).
“Em 1933, alunos da Universidade de Oxford
comprometeram-se, em público, a não lutar pela defesa de seu país, um fato que
ficou conhecido como o ‘juramento de Oxford’, espalhando-se rapidamente por
outras universidades britânicas e tendo apoio dos intelectuais”. (…). Na França
exorta-se “a realização de uma intensa campanha a fim de induzir o maior número
possível de jovens a renunciar ao combate em qualquer guerra entre nações”.
(pág. 351).
“Na Grã-Bretanha, assim como na França, o
patriotismo foi considerado suspeito e causador da guerra. H. G. Wells, por
exemplo, declarava ser contrário ao ‘ensinamento de histórias patrióticas que
sustentam e carregam a venenosa tradição guerreira do passado’ e queria que a
cidadania britânica fosse substituída pela ‘cidadania mundial’”. (pág. 352).
“Hitler observava esses acontecimentos na
Grã-Bretanha e na França, tecendo seus próprios planos e avaliando as
crescentes perspectivas de vitória militar”. (pág. 352).
“Líder do partido socialista francês, Léon
Blum, diz: “Se uma nação decidiu se desarmar, isso não acarretaria, na
realidade, nenhum risco, pois o prestígio moral de sua decisão a tornaria
invulnerável a qualquer ataque e a força de seu exemplo induziria todos os
outros Estados a fazerem o mesmo”. (págs. 352 e 353).
Durante a invasão da França pelos nazistas, o
líder sindical Georges Lapierre, pertencente ao Sindicato Nacional dos
Professores Franceses, tornou-se membro da resistência, mas foi capturado e
enviado ao campo de concentração de Dachau, onde morreu. (pág. 355).
Em junho de 1933, o líder do partido
trabalhista inglês, George Lansbury disse: “Eu fecharia todos os postos de
recrutamento, desmobilizaria o exército e desmantelaria a aeronáutica. Aboliria
todo o terrível equipamento de guerra e diria ao mundo ‘façam o pior’”. Em
21/12/1933, seu sucessor, Clement Attlee, disse à Câmara dos Comuns: “Somos
decididamente contrários a qualquer movimento em direção a uma política
armamentista”. O partido trabalhista consistentemente votava, discursava e
fazia campanha contra o rearmamento até o desencadear da guerra. (págs. 355 e
356).
Em 1931 Attlee disse: “Nossa política não é
buscar segurança por meio do rearmamento, mas pelo desarmamento”. (pág. 356).
“Mesmo antes de Hitler chegar ao poder, os
agentes da inteligência francesa já haviam penetrado na clandestina
reconstrução militar do poderio alemão. Mas tanto a imprensa quanto os
políticos não queriam relatar ao público francês coisas que ele não queria
ouvir, afinal de contas os traumas que haviam passado durante a Primeira Guerra
Mundial ainda estavam latentes”. Mesmo após o partido nazista ter se tornado a
maioria no parlamento alemão nas eleições de 1932 e Hitler ter chegado ao poder
em janeiro de 1933, a negação sobre os perigos para a França continuou. A
imprensa francesa se recusa a reconhecer o perigo da situação. (pág. 361).
“No final da década de 1930, à medida que
refugiados fugiam da Alemanha para a França, trazendo consigo as histórias
sobre os horrores do regime nazista, essas histórias não eram apenas amplamente
rejeitadas, mas porque muitos desses refugiados eram judeus, isso provocou uma
onda de antissemitismo segundo a qual os judeus estariam tentando provocar uma
guerra entre a França e a Alemanha. O antissemitismo não estava confinado às
massas, mas também se fazia comum entre os intelectuais franceses”. (pág. 363).
Os fatos históricos acima citados deveriam
nortear aprendizados para outros campos de batalhas. Naquela época professores,
intelectuais orgânicos, jornalistas e políticos empreenderam uma cruzada pelo
desarmamento da França e da Grã-Bretanha que só serviu para permitir a ascensão
do totalitarismo. Agora estamos vivenciando uma outra cruzada perpetrada pelas
mesmas classes e com as mesmas técnicas de outrora influenciando os jovens a
adotarem posturas que os levarão a abraçar uma ideologia que vai desembocar no
totalitarismo.
Mas o que fazer diante de um bombardeio
cultural cuja única intenção é conduzir, principalmente os jovens, para um
mundo de ficção cujos resultados serão desastrosos? Não foi isto o que
aconteceu naquele período entreguerras? E se a França e Grã-Bretanha estivessem
bem armadas após a Primeira Guerra Mundial, teria Hitler ousado colocar o seu
plano em prática? O totalitarismo só é possível quando um só lado está armado. Assimetria
de forças é, definitivamente, o primeiro passo para o surgimento de regimes totalitários.
E o pior totalitarismo não é mais aquele imposto pelas armas, mas por meio da
cultura sem nenhum espaço para o contraditório.
Aqui no Brasil estamos vivendo uma guerra
assimétrica no campo cultural. Uma guerra onde só um lado sempre esteve armado.
São muitos os soldados trabalhando para cooptar outros soldados. Estou falando
dos “soldados das palavras” que adquirem grande poder de persuasão quando estão
falando para públicos cativos e desinformados. Políticos, jornalistas,
intelectuais orgânicos e professores em geral com apenas meia hora de palestra
podem levar suas palavras para milhões de pessoas que já estão predispostas a
acreditarem no chamado argumento de autoridade, uma vez que tais pessoas já
foram reduzidas ao status de simples ouvintes passivos, seja diante de
uma televisão, rádio, cinema, auditório ou dentro de uma sala de aula. Todos
ouvem, mas não retrucam. Grande parte sequer possui informação suficiente para
desconfiarem de que estão sendo bombardeados com desinformações. E ainda
são levados a acreditarem que têm pensamento crítico.
Quem não souber guerrear com as armas
da guerra cultural está fadado ao fracasso. Tudo começou com a cooptação das
classes formadoras de opinião, sobretudo com a formação de intelectuais
orgânicos que se dedicam a escrever livros, artigos e reportagens jornalísticas
que distorcem as realidades. O poder dessas classes de transformar ficções em
“realidades” não pode ser desprezado. É uma questão de tempo para o caos.
Depreciar costumes e instituições seculares se
tornou pauta das mídias e conteúdo de sala de aula do nível fundamental ao
doutorado. Muitos intelectuais e professores identificam condutas negativas
e/ou criminosas de indivíduos e os associam de forma sorrateira a instituições
ou classes. Por exemplo, quando se defende direitos para os homossexuais, de
forma subliminar se deprecia a instituição “família” quando se atribui o
complemento com o termo “tradicional”. A partir daí cria-se o antagonismo:
família tradicional X família moderna. Sem a criação de um inimigo não há uma
causa.
A mensagem que se pretende fixar é a existência
de uma tal “família tradicional” que oprime outros modelos familiares. Nesta toada,
criou-se o termo “heteronormatividade” para depreciar qualquer pessoa que se
atreva a opinar de forma contrária ao politicamente correto. A defesa de
direitos para um grupo não deveria ser atrelada à depreciação de outro,
obviamente. Inventa-se um grupo inimigo e o classifica como antagônico. O
objetivo é a fragmentação da sociedade o máximo possível.
Em outro exemplo, quando se defende direitos
para os negros, tal defesa vem carregada de uma mensagem subliminar de que os
brancos são responsáveis pelo passado de escravidão e que eles têm o dever
moral de fazerem uma tal reparação histórica. O mal praticado por pessoas num
passado distante agora deve ser reparado pelos supostos descendentes daqueles
malfeitores. É o retorno ao antigo direito penal onde o descendente pagava pelo
crime cometido pelos seus pais e avós. O canto da sereia é tão eficiente que já
existem brancos se sentindo culpados pelo simples fato de serem brancos. A quem
interessa criar hostilidades entre brancos e negros? Se nada acontecer de
diferente, receio que já tenhamos iniciado a era da fabricação de
ressentimentos. Eis aí mais um ativo político que engorda as pautas
progressistas.
Também nesta toada, o cristianismo tornou-se
alvo de ataques como se fosse a religião antagônica às religiões de matriz
africana.
Tradições, instituições e grupos étnicos são
“criminalizados” por conta das condutas negativas e/ou criminosas de um pequeno
número de indivíduos, como se fosse possível levar a penalidade além do
indivíduo que cometeu o ato ilícito. Inclusive atos pretéritos são resgatados e
atribuídos de forma subliminar a instituições, religiões ou grupos identificados
como forças opressoras, como se coisas abstratas tivessem responsabilidades por
condutas ilícitas. E tudo endossado pela grande imprensa, intelectuais,
artistas, políticos etc. Em outros termos, criminaliza-se o abstrato e não o
indivíduo. Obviamente que todo crime é cometido por indivíduos e não por
instituições, grupos ou entidades abstratas.
Para cada situação que for possível identificar
um grupo ou uma instituição como opressora, também será depreciado quem ousar
discordar. Liberdade de opinião só vale se agradar à ditadura do politicamente
correto.
A maioria esmagadora dos intelectuais está
dentro das universidades públicas e, ironicamente, esses intelectuais são
financiados pelo estado para fazerem propaganda de um novo tipo de
totalitarismo: o totalitarismo do pensamento único à luz do marxismo. Talvez
muitos não enxerguem o que estão fazendo de tão embriagados pelos títulos de
doutores que possuem e por isso são adulados e convidados rotineiramente pelas
grandes mídias para tecerem suas “sábias” considerações sobre os problemas do
Brasil e do mundo. Fazem propaganda contra o país e se acham os salvadores da
pátria contra uma ditadura imaginária.
Infelizmente a maioria dos doutores da área de
ciências humanas/sociais não se predispõem à autocrítica ou a revisarem suas
ideias. Afinal, são autoridades sobre as teorias que defendem. Quando as
teorias sucumbem diante dos fatos, rapidamente inventam outras para se
apropriarem daquilo que deu certo. É por isso que já se fala em “socialismo de
mercado”. Até o sucesso da economia de mercado, que está associada ao capitalismo,
já vem sendo apropriado por progressistas para justificar o crescimento
econômico da China e a formação de uma imensa classe média naquele país.
Por décadas os intelectuais desonestos
repudiaram a economia de mercado. Mas quando o partido comunista chinês resolve
aderir às regras do capitalismo e tem sucesso, então é agora que o socialismo
finalmente apareceu com seu verdadeiro nome: socialismo de mercado. Mas ainda
está numa fase primária. Inacreditável a cegueira de tantos letrados!
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