A DEFESA DO "MODUS VIVENDI" DOS ÍNDIOS BRASILEIROS E AS “CRIANÇAS VERDES”

 green and brown tree during daytime


Aguimon Alves - 21/09/2019. Revisado em 08/01/2020

 

Nada contra os valores indígenas. Pelo contrário, é uma bandeira legítima. Mas os detentores dos microfones não se dão conta que preservar a cultura de um povo não significa deixá-lo no isolamento. O que é a história da humanidade senão uma trajetória de trocas e misturas culturais?

O desenvolvimento socioeconômico e cultural da Europa decorreu em grande parte da matemática, da ciência e das invenções produzidas no Oriente Médio e na China. A cada conquista tecnológica, ninguém quer retornar ao "modus vivendi" anterior. Quem hoje trocaria o computador pela máquina de escrever, o telefone celular pelo fixo, o fogão a gás pelo fogão à lenha?

Quantos netos ou bisnetos de japoneses ou italianos que vivem no Brasil falam as línguas de seus avós e bisavós? Perderam a dignidade por conta de não falarem a língua de seus ancestrais? Foram massacrados culturalmente? Pelo contrário, miscigenaram-se com os brasileiros nativos e misturaram o sushi, a pizza e o macarrão com o churrasco, o feijão tropeiro e a tapioca.

A quem interessa manter o índio vivendo da mesma forma como viviam seus ancestrais  há quinhentos anos? Certamente ninguém gostaria de viver como seus  antepassados que sapecavam seus alimentos em fogueiras e, literalmente, corriam atrás da proteína de cada dia com um tacape na mão. Os descendentes do homem de tacape, que hoje defendem o “modus vivendi” do índio de outrora, caçam seus alimentos não com um tacape, mas com um cartão de crédito. E nem de fogão a gás precisam! Os alimentos chegam prontos para o consumo apenas com uma teclada no iFood.

Demarcação de terra indígena parece ser mais importante do que integrar o índio à rede elétrica, à internet, à geladeira, à universidade, à torcida do Flamengo ou do Grêmio ou do Palmeiras ou do Atlético, perdão aos torcedores não mencionados. Quaisquer que sejam os novos ganhos culturais, eles são bem-vindos. Você leitor, deixa de ser menos brasileiro por ser adepto do futebol, invenção dos ingleses? Ou da pizza, proveniente da Itália?

Mas... voltando aos índios.... Acho que há uma campanha muito bem organizada para não integrar o índio da Amazônia brasileira ao restante da sociedade. E esta campanha se esconde nas sombras de um suposto desenvolvimento econômico, social e cultural que só seria possível por meio da autodeterminação dos povos e não pela via da integração. Certamente, a miscigenação do índio com outros brasileiros seria um grande empecilho a projetos obscuros, sabe-se lá de quem.

O que falta, então, para a formação de novos Estados-nação na América do Sul? Se existem povos com línguas e costumes próprios e territórios demarcados, só falta um cacique proclamar a independência e ter o reconhecimento de uma nação "amiga". Mas falta também que um cacique tenha o respaldo da sociedade brasileira e internacional para tal intento. E temo que, para isto, já exista um fundamento em construção, amplamente divulgado por organismos internacionais e por boa parte da mídia tradicional sob a forma de bandeiras nobres que se prestam não só à defesa dos indígenas, como também dos animais e das florestas. São pautas que atiçam os incautos anônimos e famosos. O fundamento jurídico já existe, conforme se vê no art. 1º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966 do qual o Brasil é signatário, veja:

Art. 1º - "Todos os povos têm o direito à autodeterminação. Em virtude deste direito estabelecem livremente a sua condição política e, desse modo, providenciam o seu desenvolvimento econômico, social e cultural".

Todos os Estados-nação que falharam na integração dos povos convivem com o fantasma do separatismo ou com o potencial desse possível desejo virar pauta reivindicatória. Veja o caso do País Basco e da Catalunha, ambos na Espanha. E da Escócia em relação à Inglaterra cuja história do separatismo vem de tempos bem distantes.

E se Bolzano, província autônoma situada ao norte da Itália, resolvesse declarar independência ou mesmo se agregar à Áustria? Fundamento histórico-cultural existe para tal intento. Antes da unificação da Itália em 1861 Bolzano fazia parte do Império Austro-Húngaro e o idioma alemão e a cultura germânica são predominantes na região.

Não esqueçam, ainda, da Chechênia, república da Rússia que sonha com a independência. Por falar em Rússia, lembrei da ex-URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). A queda da URSS também teve uma contribuição do fato de os diferentes povos, compulsoriamente agregados, não terem sido assimilados, a despeito de o partido comunista com sede em Moscou ser o detentor do poder militar. É obvio que também a inviabilidade de uma economia planificada ajudou a manter os diferentes povos em constante estado de separatismo.

Também não nos esqueçamos da artificial Iugoslávia. Estado que agregava compulsoriamente vários povos, mas que desapareceu tão logo ficou insustentável o modelo econômico socialista.

E o que dizer dos inúmeros países africanos que abrigam um caldeirão de culturas? As antigas rivalidades culturais são responsáveis por um constante estado conflituoso, impedindo que as variadas nações se entendam umas com as outras. E se cada nação africana resolvesse se declarar independente? Em Moçambique, por exemplo, já foram identificadas pelos menos 46 línguas para uma população de 31 milhões de habitantes (2019). O português é conhecido por aproximadamente metade da população.

Na Nigéria, ex-colônia britânica, país mais populoso da África (195 milhões de habitantes em 2018), pasmem, são 510 línguas vivas! O inglês foi decretado como língua de unidade nacional e é falado por pelo menos metade da população.

Também na Ásia a questão étnica está muito presente. Na Índia, por exemplo, são 22 línguas oficiais, sendo que o inglês e o hindi são línguas oficiais em âmbito federal. Calcula-se pelo menos 150 línguas faladas na Índia. A BBC News Brasil (nov/2017) noticiou a descoberta de 780 línguas. Convém informar que a Índia tem uma população de 1 bilhão e 296 milhões de habitantes (2018).

Para quem pensa que todos na China são “irmãos”, o país tem uma história de 56 etnias. A etnia Han constitui a maioria da população chinesa, pouco mais de 91%.  No poder desde 1949 a etnia Han impôs sua língua, o mandarim, para o restante da população. Mas as outras 55 minorias ainda usam sua própria língua. Algumas se comunicam em vários idiomas. Dados de 2019 indicavam que a China já contava com 1 bilhão e 400 milhões de habitantes.

Mas onde quero chegar com tantos devaneios étnicos e linguísticos? Quero lançar um palpite que parece teoria da conspiração.

Por que ainda não surgiu uma pauta de ativistas europeus e americanos de reivindicação pela independência de povos indígenas da Amazônia?

Porque as nações ricas, principalmente as europeias, ao reconhecerem a autodeterminação de um povo, temem abrir uma caixa de pandora, precedente que poderia incentivar o surgimento de inúmeros conflitos pelo poder político em nações africanas e asiáticas. Isto geraria instabilidade mundial sem controle, tendo em vista que comprometeria futuras explorações dos recursos naturais tão necessários à perpetuação do “modus vivendi” dos povos das nações ricas. Mas, talvez o maior temor dos europeus seja as futuras grandes ondas migratórias de refugiados em direção à Europa, que já é um grande problema na atualidade que pode ser potencializado com novos conflitos separatistas.

Também não se pode descartar eclosões de conflitos dentro da própria Europa com o ressurgimento de movimentos separatistas até de nações já praticamente assimiladas, dentre outras cujas línguas e costumes estão muito presentes no cotidiano das pessoas. 

É necessário encontrar outra estratégia para defender os povos indígenas da Amazônia sem dar a eles uma “solução” pelas vias da independência política. Parece-me, e aí vai outro palpite, que a estratégia já está sendo processada por meio das bandeiras ambientais. Trata-se da formação de uma “geração verde” preocupada com a salvação do mundo.

No mês de setembro de 2019, milhões de jovens de vários países saíram às ruas exigindo bloqueio às mudanças climáticas como forma de salvar o planeta, como se fosse humanamente possível impedir tais mudanças. Parece-me que jovens de países ricos, bem nutridos e escolarizados, foram imunizados cognitivamente. Acho que nunca assistiram aulas de biologia ou geografia para compreenderem como funciona a dinâmica climática desde milhões de anos antes de qualquer atividade industrial.

O clima está em constantes mudanças e nada pode ser feito para alterar tal trajetória. Resta apenas desenvolvermos estratégias para sobrevivermos às mudanças que são implacáveis. Só infantis e incautos acreditam que é possível conter as forças da natureza. Entretanto, é possível se proteger contra elas.

Perdão jovens europeus, mas acho que vocês deveriam sair às ruas para protestarem contra a plantação de maconha e coca cujos produtores praticam desmatamento na América do Sul para plantarem as drogas que alimentam os delírios e devaneios de milhões de viciados. O protesto de vocês neste sentido ajudaria a chamar atenção das autoridades para a preservação do ambiente local. O custo ambiental e, consequentemente, o econômico, é enorme não só com a queda de produtividade e despesas com tratamento de saúde, como também por conta das instabilidades familiares. E nem vou comentar as milhares de vidas ceifadas dentro da cadeia produtiva das drogas.  

Que ironia! Muitos de vocês europeus e americanos assumem posturas ecologicamente corretas, recusando-se a consumirem produtos sob a alegação de uso de agrotóxicos, mas morrem por overdose. Por acaso, alguém protesta deixando de fumar ou cheirar alegando o uso de agrotóxico no produto da recreação? Ou mesmo que o apreciado produto tenha sido produzido com trabalho análogo à escravidão? 

O fato é que a geração verde já nasceu e está espalhada pelo mundo inteiro. Ela é global e já contaminou até os povos de países africanos desprovidos de água potável e rede de esgoto. Ironicamente, milhões de jovens africanos, que se juntaram aos jovens europeus que desejam salvar o planeta, não conseguirão salvar a si próprios simplesmente porque ainda bebem água contaminada e não têm vaso sanitário para defecar. Para milhares desses “jovens verdes”, que não deixarão descendentes com a missão de salvar o planeta, o mundo acabará só para eles: morrerão em breve de diarreia, malária, tuberculose, sarampo, deficiência respiratória, aids e até por doença do sono que é provocada por protozoários cujo vetor é a mosca tsé-tsé.   

Não ficarei surpreso se um dia tivermos a seguinte pauta como solução para salvar o mundo: a criação de um imposto ambiental internacional e a demarcação de territórios a serem colocados sob a administração da ONU.

E teremos mais crianças verdes e jovens saindo às ruas defendendo a causa. Desta vez serão os filhos daqueles adultos transformados em zumbis ecológicos que outrora foram as crianças verdes da Europa.

É espantoso que o vírus da desinformação e manipulação esteja tão impregnado nas mentes das pessoas, independentemente da classe social. Contamina desde milionários de Hollywood até crianças da paupérrima Uganda. A diferença é que uns morrem de overdose e outros de diarreia.

 

 

Referências

https://www.terra.com.br/noticias/mundo/austria-reafirma-proposta-de-cidadania-a-italianos-de-bolzano,4994397a4b07c721baa04374d31d24f45jy54wly.html

http://curiosidadesnigerianas.blogspot.com/p/linguas.html

https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2017/12/estes-serao-os-paises-mais-populosos-de-2018.html

https://www.brasileiraspelomundo.com/qual-o-idioma-oficial-na-india-510777344

https://www.historiadomundo.com.br/indiana/linguas-indianas.htm

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41840429

https://www.chinalinktrading.com/blog/populacao-chinesa-etnias/

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/01/21/crescimento-populacional-da-china-desacelera-apesar-de-fim-da-politica-do-filho-unico.ghtml


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